Quando alguém contrata um empréstimo, é comum focar apenas nas taxas de juros mensais e nas parcelas.
Mas o verdadeiro custo da operação vai muito além disso — e é justamente o que o Custo Efetivo Total (CET) revela.
O CET é o indicador mais completo para entender quanto você realmente vai pagar por um empréstimo, financiamento ou qualquer outro tipo de crédito.
Ele engloba todos os encargos e despesas envolvidos na operação, permitindo comparar propostas e evitar surpresas no orçamento.
Neste artigo, você vai entender o que é o CET, como ele é calculado, o que ele inclui (e o que não inclui), por que ele é obrigatório por lei e como usar esse indicador para tomar decisões financeiras mais inteligentes.
O que é o Custo Efetivo Total (CET)
O Custo Efetivo Total (CET) é a taxa percentual anual que representa o custo total de um empréstimo ou financiamento.
Ele reúne não só os juros, mas também tarifas, seguros, impostos e outras despesas que o consumidor paga ao longo do contrato.
Em outras palavras, o CET mostra quanto o crédito realmente custa — em vez de mostrar apenas o valor “aparente” das parcelas.
Esse indicador é obrigatório em qualquer contrato de crédito, conforme as regras do Banco Central do Brasil (Resolução 3.517/2007).
Toda instituição financeira é obrigada a informar o CET antes da contratação, de forma clara e transparente.
Por que o CET é importante
Muitas pessoas aceitam propostas de crédito baseadas apenas na taxa de juros mensal, sem perceber que o custo real pode ser muito maior.
Ao incluir todas as cobranças, o CET revela a verdadeira diferença entre as ofertas de diferentes bancos.
Por exemplo:
- Um empréstimo com juros de 2% ao mês pode parecer mais barato,
mas se houver tarifas e seguros embutidos, o custo final pode equivaler a 3% ou 4% ao mês.
O CET ajuda a evitar esse tipo de engano.
Ele é o instrumento mais confiável para comparar empréstimos e identificar a proposta mais vantajosa — mesmo quando as instituições usam formas diferentes de apresentar seus produtos.
O que compõe o CET
O Custo Efetivo Total é formado por todos os encargos cobrados do consumidor, direta ou indiretamente.
Entre os principais componentes estão:
- Juros remuneratórios: o valor cobrado pelo banco pelo uso do dinheiro emprestado.
- Taxas administrativas: custos de abertura de crédito, análise e manutenção do contrato.
- Impostos: como o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).
- Seguros obrigatórios: em alguns contratos, há seguros embutidos (como seguro prestamista).
- Tarifas de serviços: emissão de boletos, transferências, ou outros custos operacionais.
- Despesas acessórias: custos de registro ou autenticação de documentos.
Todos esses valores, somados e convertidos em percentual anual, formam o CET.
Por lei, o banco deve apresentar o CET em percentual anual e, quando solicitado, também em percentual mensal, para facilitar a compreensão.
O que o CET não inclui
Apesar de ser um indicador completo, o CET não engloba todas as despesas possíveis.
Ele não inclui:
- multas por atraso;
- juros de mora;
- encargos cobrados fora das condições originais do contrato;
- custos de serviços opcionais que o cliente escolheu por conta própria (por exemplo, contratar um seguro adicional não obrigatório).
Ou seja: o CET mostra o custo do contrato nas condições normais de pagamento — sem considerar imprevistos ou inadimplência.
Como o CET é calculado
O cálculo do CET envolve fórmulas financeiras complexas, mas a lógica é simples:
ele transforma todas as parcelas, tarifas e encargos em uma única taxa percentual equivalente.
De forma simplificada, o cálculo considera:
- o valor total recebido pelo cliente (crédito líquido, já descontadas as tarifas iniciais);
- o valor de cada parcela paga;
- o número de parcelas;
- e o prazo total do contrato.
A partir disso, a instituição usa uma fórmula de equivalência de fluxos financeiros para chegar à taxa efetiva anual — que é o CET.
O objetivo é permitir que dois empréstimos com diferentes prazos, taxas e tarifas possam ser comparados de maneira justa.
Exemplo prático de CET
Imagine duas propostas de empréstimo de R$ 5.000,00, pagas em 12 parcelas.
- Proposta A: juros de 2% ao mês, sem tarifas.
- Proposta B: juros de 1,7% ao mês, mas com taxa de abertura de R$ 150,00 e seguro obrigatório de R$ 80,00.
A segunda parece mais barata olhando apenas os juros, certo?
Mas, ao incluir as tarifas e seguros no cálculo, o CET mostra outra realidade:
- CET da Proposta A: cerca de 27% ao ano.
- CET da Proposta B: cerca de 33% ao ano.
Mesmo com juros menores, a Proposta B é mais cara no custo total.
Esse exemplo mostra como o CET evita armadilhas de marketing e ajuda o consumidor a tomar uma decisão consciente.
CET e o IOF
O IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) é um imposto federal cobrado em praticamente todas as operações de crédito.
Ele também faz parte do cálculo do CET, já que representa uma despesa obrigatória.
Atualmente, o IOF sobre empréstimos pessoais é de:
- 0,0082% ao dia sobre o valor emprestado;
- mais uma alíquota fixa de 0,38% sobre o valor total.
Embora pareçam pequenas, essas taxas podem impactar o custo final, especialmente em empréstimos de curto prazo.
CET x Taxa de juros: qual a diferença
A principal diferença é que o CET reflete o custo total, enquanto a taxa de juros mostra apenas o custo do dinheiro emprestado.
Em resumo:
- Juros: o preço cobrado pelo banco pelo uso do crédito.
- CET: juros + impostos + tarifas + seguros + demais encargos.
Por isso, comparar apenas as taxas de juros pode levar a conclusões erradas.
Duas propostas com juros semelhantes podem ter CETs completamente diferentes.
O CET é obrigatório em quais operações
De acordo com o Banco Central, o CET deve estar presente em todas as modalidades de crédito, incluindo:
- empréstimo pessoal;
- crédito consignado;
- financiamento de veículos e imóveis;
- cartão de crédito (rotativo e parcelado);
- cheque especial;
- crédito direto ao consumidor (CDC);
- e operações de portabilidade de crédito.
A ausência do CET em uma proposta ou contrato é considerada irregularidade grave, e o consumidor pode acionar o Procon ou o Banco Central para denunciar.
Onde encontrar o CET no contrato
Toda instituição é obrigada a apresentar o CET de forma visível e destacada no contrato e nas telas de simulação.
Você pode encontrá-lo:
- nas telas de proposta de empréstimo (antes da contratação);
- no resumo do contrato;
- e, em alguns casos, no extrato mensal da operação.
Se a informação não estiver clara ou acessível, exija que o banco ou financeira a apresente por escrito.
A transparência é um direito garantido ao consumidor.
Como usar o CET para comparar empréstimos
O CET é a ferramenta ideal para comparar diferentes ofertas e identificar a mais vantajosa.
Veja como fazer isso corretamente:
- Simule o mesmo valor e prazo em diferentes instituições.
- Anote o CET informado por cada uma.
- Compare os percentuais anuais — quanto menor o CET, menor o custo total.
- Avalie também o valor líquido recebido. Algumas propostas descontam tarifas logo no início.
- Leia o contrato completo. Verifique se há cobranças que o CET não inclui (como serviços opcionais).
Com esses passos, você garante que está comparando as propostas de forma justa e realista.
O CET muda ao longo do contrato?
Não.
O Custo Efetivo Total é calculado no momento da contratação e permanece fixo durante todo o período de vigência do empréstimo, desde que as condições contratuais não sejam alteradas.
Ele pode mudar apenas se o cliente:
- refinanciar a dívida;
- atrasar parcelas;
- ou fizer alterações contratuais que impliquem novos encargos.
Fora essas situações, o CET é fixo e serve como referência até o fim do contrato.
O CET pode ser diferente para o mesmo valor?
Sim.
Mesmo para o mesmo valor e prazo, o CET varia conforme o perfil do cliente e a instituição financeira.
Isso acontece porque cada banco utiliza modelos de análise de risco próprios e cobra tarifas diferentes.
Por exemplo, um cliente com bom histórico de crédito tende a ter juros e tarifas menores, reduzindo o CET.
Já quem tem histórico de atraso ou score baixo pode enfrentar um custo efetivo total mais alto, refletindo o maior risco percebido.
Por que o CET protege o consumidor
O CET é uma das principais ferramentas de transparência no sistema financeiro.
Ele garante que o consumidor saiba exatamente quanto está pagando, impedindo práticas enganosas.
Antes da criação dessa regra, muitos bancos divulgavam apenas “juros promocionais” e escondiam custos adicionais em letras pequenas.
Hoje, a obrigatoriedade do CET permite comparar ofertas de forma clara e impede surpresas na fatura.
Em resumo, o CET:
- promove transparência;
- facilita a comparação entre instituições;
- e protege o direito à informação do consumidor.
Dicas para usar o CET a seu favor
- Nunca feche contrato sem conferir o CET.
- Compare o CET entre pelo menos três instituições diferentes.
- Desconfie de ofertas que não informam o CET por escrito.
- Avalie o CET junto ao valor líquido recebido. Às vezes, o crédito parece maior, mas as tarifas iniciais reduzem o valor real.
- Priorize instituições autorizadas pelo Banco Central.
Essas práticas garantem decisões financeiras mais seguras e bem informadas.
Conclusão
O Custo Efetivo Total (CET) é o número que mostra, de forma transparente, quanto um empréstimo realmente custa.
Mais do que uma simples taxa, ele representa o valor total que você paga pelo crédito, considerando todos os encargos e despesas.
Saber interpretar o CET é fundamental para comparar propostas e escolher a mais vantajosa.
Em um mercado com tantas opções, quem entende esse indicador tem poder de decisão e evita armadilhas financeiras.
Antes de assinar qualquer contrato, olhe além da parcela.
Verifique o CET, leia todas as condições e só aceite o que estiver claro e dentro do seu orçamento.
Em finanças, a transparência é o melhor investimento que você pode fazer — e o CET é o seu principal aliado nessa jornada.



